quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Relatos do IV Encontro do movimento Casa Warat




O Encontro estava programado para começar na sexta, mas começou muito antes com a chegada de nossos amigos goianos na cidade que não para. Após fazermos um passeio pelo centro da cidade, discutimos, ao som dos impressionistas, regado de muito café pessegueiro, as vivências waratianas dentro das Casas já construídas...

 
SEXTA – 07/09

Sexta chegou com muitas borboletas na barriga e uma expectativa de cortar o peito, do encontro com os que há muito não víamos, do conhecer daqueles que, até então, eram uma foto virtual na rede. Foi fácil achar o grupo no vão livre do MASP, habitado por nada menos que uma gigantesca centopeia humana e gritos de diferentes cartazes.

Dinâmica de abertura
Após uma rápida apresentação de nomes, a Dinâmica de Abertura foi a seguinte: flanar por São Paulo, em busca de impressões daquela cidade que vivia a independência do seu país. Dividimo-nos em grupos mistos e fomos, cada qual com seu roteiro, sair, quando nada nos obriga a fazê-lo, e seguir nossa inspiração como se o simples fato de virar à direita ou à esquerda já constituísse um ato essencialmente poético. (Walter Benjamin)

Foram cinco roteiros para ajudar no exercício do flanar, questionando os waratianos quanto às cores da cidade, suas árvores, suas artes, seus cheiros, seus moradores... Após 2 horas de andanças, o reencontro se deu na Casa das Rosas, com toda sua cor, sombra e frescor, naquele dia de calor.

A roda foi se formando aos poucos, conforme a chegada dos grupos. Cada um discutindo suas experiências com os parceiros, mas ainda curioso com o outro. Momento das apresentações e da pergunta, como chegou até aqui? Após emocionantes relatos, desabafos e partilha, seguimos para o Centro Cultural São Paulo, num vagão de metrô que transbordava sensibilidade.

A roda da Casa das Rosas
A chegada no Centro Cultural foi junto com a chegada da noite, e a vista do jardim com as lampadinhas não poderia ser melhor. Logo nos organizamos em roda novamente, em bancos esculturais que estavam bem ali no meio. Deu-se início da troca de experiências sobre a dinâmica inicial, com cada um tecendo, com tranquilidade, as impressões da cidade que não dorme.

O diálogo foi naturalmente se encaminhado para o tema do nosso Café Filosófico: Cidade e Sensibilidade. Leopoldo Fidyka, com seu portunhol cativante e Wilson Levy, que resolveu deixar o anteriormente preparado de lado, nos contaram sobre o desafio waratiano de sensibilizar e humanizar essa cidade de concreto que nos deixa diariamente mais desumanizados.

Após muitas reflexões e construção coletiva, seguimos para a Augusta, comemorar nossos (re)encontros, num vagão que agora, além de sensível, cantava. No meio de porções e cerveja, num canto de Minas, surge, com coragem, a Casa Warat Sul.

Amigos, coragem!

  
SÁBADO – 08/09

Foto de Leopoldo Fidyka

Seja a mudança que deseja ver no mundo...
Chegada a hora do almoço, o edifício que faz curvas nos recebeu com toda a sua grandiosidade, fazendo até gaúcho comer vegetariano. Foi no meio do restaurante charmoso, cheio de graça e Bonfim, que se iniciou nosso Painel de Práticas Waratianas. Qual a relação possível entre as instituições e a sensibilidade? nos contou Márcio Berclaz, com seu jeito doce, transbordante de esperança e luta.

Seguimos, então, para o labirinto do encontro, com eu, tu, eles de andanças na exposição que habitava o edifício Copan. Fomos seguindo pelo centro de São Paulo até chegar ao Café Girondino, ponto de comidas gostosas, foi sim.

Mas nosso debate se deu no Mosteiro de São Bento, e não haveria de faltar um. Na sala ao lado da fonte, na primeira Faculdade de Filosofia do Brasil, tiramos os sapatos e sentamos em roda para ler a Entrevista imaginária a Luis Alberto Warat, por Leopoldo Fidyka, discutindo temas sobre educação, pedagogia, sensibilidade e alteridade.

Dialogamos e reencontramos a esperança da nossa prática diária nas palavras do mestre que nos ensinou, mais do que teorias, o amor. Era chegada a hora, então, do nosso cabaret carnavalizado... Seguimos.

Depois de muitas horas de preparo, subimos ao topo do prédio na avenida que não é feita só de concreto, mas também de poesia, e fez-se o nosso Sarau de encerramento em meio às cores de um “waral” repleto de deseo. No metro imaginário, nos esprememos em busca das razões que nos unem para além do espaço físico. Enxergamos a luz na sombra que ali habitava, mostrando, poeticamente, todo o amor e saudade que ali se encontrava.

O sarau...

O dia amanheceu ao som de Petrolina e Juazeiro e, enquanto alguns dormiam os sonhos dos bons, outros viam o arcoirizar carvalizado do nascimento de um novo sol, de um novo encontro.


DOMINGO – 09/09

Foto de Leopoldo Fidyka
Um pouco cansados dos colchões infláveis, já sentindo um aperto no peito da próxima partida, domingo fomos à Pinacoteca não querendo a despedida. Foi um momento de Balanço, traçando as Metas para nosso próximo encontro, que mais do que uma pontualidade, seria resultado de uma construção ao longo dos meses, num vínculo de amizade, coletividade e amor, que ali se consolidava...



Após duas semanas de correria, lembro-me do nosso Encontro e meu coração se tranquiliza, pois sei que, mesmo estando um pouquinho longe, temos muitos cronópios (e porque não também, famas) que se importam com o outro e se empenham, diariamente, na sensibilização dessa vida que se não vivida para a construção coletiva de uma sociedade melhor, de nada vale.

sábado, 1 de setembro de 2012

MAIS NOVIDADES SOBRE O IV ENCONTRO!!!


Nosso evento será atravessado por ARTE!

A 30a Bienal de Arte de São Paulo, com o título "A iminência das poéticas", começará exatamente no dia 07 de setembro, ou seja, juntinho com o encontro!!




Segundo a curadoria da Bienal, a iminência representa "o que está a ponto de acontecer, a palavra na ponta da língua, o silência imprevisto que antecede a decisão de falar ou não falar, a arte como estratégia discursiva e a poética em sua pluralidade e multiplicidade".

A montagem da exposição já começou!!!


(Foto divulgada no site da revista VEJA SP)






E também vai rolar a inauguração de uma incrível galeria de arte no Edifício Copan, cartão-postal de São Paulo, no dia 08 de setembro, exatamente no dia em que estaremos lá, no almoço no restaurante EcoMercato!!



É assim que nossos encontros são: permeados pelo inesperado!!

Estão todos convidadados!!

Não esqueçam de mandar email com um número de telefone para contato (casawarat@gmail.com).


Equipe Casa Warat SP - contando os minutos para o evento!!


sábado, 25 de agosto de 2012

IV Encontro - Aviso importante


IV ENCONTRO - AVISO IMPORTANTE


(Foto: Sarau de encerramento do III Encontro CW - 2011)


Em virtude dos gastos com a realização do Sarau de Encerramento do IV Encontro, especialmente considerando a necessidade de locação do único espaço viável e disponível para a data, informamos a todos que será cobrada a quantia de R$ 50,00 (cinquenta reais) por pessoa, a título de rateio dessas despesas. Os estudantes de graduação terão desconto, caindo esse valor para R$ 30,00 (trinta reais).


Lembramos a todos que nessa contribuição está incluída a alimentação (comida e bebida) que será servida nessa atividade.

Agradecemos a compreensão de todos!

Contando os minutos para o evento...
Equipe Casa Warat SP

sábado, 11 de agosto de 2012

IV Encontro - Programação





IV ENCONTRO DO MOVIMENTO CASA WARAT

7,8 E 9 DE SETEMBRO, EM SÃO PAULO

PROGRAMAÇÃO

QUINTA (06/09)

20h: RECEPÇÃO
Local: a definir


SEXTA (07/09)

14h: Dinâmica de Abertura:
Cronopiando na cidade: o que há em São Paulo para além do concreto?
Local: Vão livre do MASP – Av. Paulista
Ponto de encontro: bilheteria

17h: Café Filosófico: “Cidade e Sensibilidade”
Facilitadores: Wilson Levy e Leopoldo Fidyka
Local: Centro Cultural São Paulo (Ao lado do Metrô Vergueiro)


SÁBADO (08/09)

13h: Almoço seguido do Painel "Práticas waratianas - Qual a relação possível entre as instituições e a sensibilidade?"
Facilitadores: Marcio Berlaz (MP-PR)
Local: Ecomercato - Restaurante dentro do Edifício Copan - Av. Ipiranga, 200
Ponto de encontro: 12h, metrô República - catraca

17h: Painel - “O movimento waratiano”
Facilitadores: André Copetti, Jaqueline Sena, Eduardo Rocha, Mariana Galvão, André Jorgetto e demais membros do movimento interessados
Local: Café Girondino (Ao lado do metrô São Bento - Centro)

20h: Sarau de encerramento
Local: a definir


DOMINGO (09/09)

11h: Balanço do evento e metas
Local: Café da Pinacoteca (Ao lado do Metrô Luz)


* Possíveis alterações podem ocorrer e serão previamente comunicadas.

* Pedimos a todos que confirmem presença através do e-mail, indicando um telefone para contato, até o dia 31 de agosto: casawarat@gmail.com


Presenças já confirmadas:


1. Alexandra Montgomery (EUA)

2. Ana Diehl (PR)
3.  Andrea Tourinho (BA)
4.  Andrea Wollmann (MT)
5.  André Copetti (RS)
6.  André Jorgetto (SP)
7.  Bruna Zeni (SP)
8.  Caroline Arco (SP)
9.  Carmela Grune (RS)
10.  Carmem Lucia (SP)
11. Eduardo Rocha (GO)
12. Ellade Imparato (SP)
13. Gustavo Moura (PR)
14. Guilherme Kardim (SP)
15. Isabela Borba (SC)
16. Jaqueline Sena (SP)
17. Leopoldo Fidyka (AR)
18. Marcio Berclaz (PR)
19. Mariana Galvão (SP)
20. Michelle Rocha (PR)
21. Nadia Pinheiro (GO)
22. Paulo Dante (GO)
23. Pedro Garcia (SP)
24. Ricardo Baitz (SP)
25. Sarah Almeida (PR)
26. Vanessa Orban (SP)
27. Wilson Levy (SP)
28. Julia Morgado (SP)






Foto da exposição "corpos presentes" de A. Gormley


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

IV Encontro Internacional do Movimento Casa Warat




Nos dias 7, 8 e 9 de setembro ocorrerá, na cidade de São Paulo, o IV Encontro Internacional do Movimento Casa Warat! Vamos cronopiar (n)a cidade de concreto!

A fim de organizarmos melhor o encontro, pedimos para que os interessados façam sua inscrição entre os dias 9 e 31 de agosto, por meio do nosso e-mail casawarat@gmail.com, enviando seu nome e cidade onde reside.

Entraremos, em breve, em contato com os inscritos e postaremos neste blog mais informações sobre o evento que se aproxima!

Esperamos a todos e todas!

domingo, 22 de abril de 2012

Cidades sensíveis?


O discurso edulcorado sobre as virtudes de São Paulo é pródigo em criar as expressões que povoam a mentalidade do paulistano médio e acalentam suas ilusões de grandeza: locomotiva do país, cidade cosmopolita, cidade que nunca dorme. Com elas, vêm as outras certezas que servem apenas para preencher uma existência vazia: aqui estão as melhores opções gastronômicas (quiçá do mundo) e o mais rico acervo arquitetônico do país; aqui (aos que se dispõem a trabalhar, frise-se), não faltam oportunidades.
Non dvcor, dvco (“não sou conduzida, conduzo”). A alegoria extraída do latim para designar um protagonismo está eternizada no brasão  paulistano logo abaixo de uma mão encoberta por armadura, e simboliza um desejo imanente de afirmação de poder, entre outros, perante um país que o oprime desde derrota do movimento revolucionário de 1932.
Cidade sensível?
É nesse contexto que se descortina a problemática integração social na capital paulista. O metrô, símbolo da dinamização (incompleta) da mobilidade urbana numa modernidade que se afirma na pré-modernidade que marca outras metrópoles brasileiras, é o locus privilegiado para o observador verificar as contradições. Lá, todas as manhãs, convivem os novos excluídos da megalópole: o jovem trabalhador, sonolento depois de rasgar as bordas da cidade até a estação mais próxima, que se anestesia com a música alta sintonizada num smartphone; a mãe que se esforça em proteger os ouvidos do rebento do barulho ensurdecedor das composições; o homem calvo, com espírito empreendedor e habilidade para trabalhar em equipe, que, imbuído da confiança que seu terno risca de giz provoca, abre mão de sua condição de espoliado para se afirmar como “colaborador” de uma grande corporação. Todos marcados pelos pequenos perrengues do dia-a-dia e por massacrantes processos de violência simbólica.  Tudo no mesmo espaço em que há a sagração do sonho de ascensão social (material?) para todos, pela propaganda de uma grande S/A do ensino que afirma poder transformar motoristas de ônibus em gerentes de viação.
Cidade sensível?
A casa do paulistano é, para além de santuário da família (e de todo o entulho autoritário que a permeia, mas que, porque privada, é imune a qualquer intervenção pública, como se lê na História da Vida Privada de Philippe Ariès e Georges Duby), a concretização de seus sonhos e vississitudes. Sobram eletrodomésticos, sobretudo aqueles que mimetizam o andar de cima, faltam livros. A localização importa pouco, bastando estar próxima ao metrô. A “varanda gourmet”- ou o que disso se aproxima – é desejável, assim como as numerosas vagas de garagem, necessárias para os dias de rodízio no trânsito. A profusão de termos anglófonos é igualmente importante: beauty center e baby room, dog walker, car wash, home theather, fitness room, game station, lan house. Tudo o que poderia ser encontrado nas ruas, se essas não fossem o espaço privilegiado da degradação e da subversão, nas palavras de Lúcio Kowarick.  Tudo o que a vida em comunidade ofereceria ao homem comum, não fosse a necessidade de fazer disso um elemento diferenciador e uma compensação à vida vazia de seus habitantes.
Pouco importa a especulação imobiliária que empurra os mais pobres para a mais longe. Cidade sensível?
Jane Jacobs afirma que “as cidades grandes são geradoras naturais de diversidade e fecundas incubadoras de novos empreendimentos e ideias de toda espécie (2009, p. 159), mas não pode desconhecer que por trás dessa vocação da grande cidade para a inovação existe o antecedente do saneamento social, que, ao eliminar (em parte) o flagelo da habitação inadequada – que ainda existe inclusive quanto à ausência de regularização fundiária – põe a arquitetura e o urbanismo a serviço da neutralização dos conflitos sociais. E não há livraria – que confere uso renovado ao prédio antigo – que faça compensar isso!
Cidade sensível?  
São Paulo ainda parece alheia ao debate entre o Apolo da arquitetura-total, da “casa como máquina de morar”de Le Corbusier, e o Dionísio/Pan de Frank Lloyd Wight do saudosismo da integração homem-natureza. Mas que não deixa de dar razão a Vilanova Artigas, quando este denunciava, nos idos dos anos 50, sua vocação para o simulacro de boa arquitetura (importada). E se está alheia a esse debate, o que dizer das relações sociais desenvolvidas no seu interior?

segunda-feira, 9 de abril de 2012

"Ni-ni"




No dia 29 de março, na Espanha, os trabalhadores cruzaram os braços e, indignados, fizeram manifestações em mais de 100 cidades do país. Tal paralisação enfrenta as reformas trabalhistas propostas pelo primeiro-ministro, Mariano Rajoy. A Espanha é o país na zona do euro que tem a maior taxa de desemprego, que entre os jovens espanhois já ultrapassou o 50%.
O professor Javier de Lucas, catedrático de filosofia do direito e filosofia política do Instituto de Direitos Humanos da Universidade de Valência, chama os atuais jovens de geração “ni-ni”: ni emprego, ni perspectivas, ni nada. (http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,ni-presente-ni-futuro,858401,0.htm)
Mas, afinal, quais alternativas foram dadas à juventude no desenrolar destes últimos anos, marcados pela experiência do socialismo “real”, pela onda neoliberal nos anos 90, e pela globalização econômica capitalística? Não havia opção senão render-se à ditadura dos fatos: não há sonhos e desejos além do que está dado, circunscreva-se à realidade.
Essa “realidade” acabou por engloba(liza)r sob sua égide todas as outras alternativas: emprego-desemprego, desenvolvimento-subdesenvolvimento, vontade-necessidade, etc. No entanto, chamar esses binômios de “alternativas” é um uso imoral da retórica, pois, como se sabe, não há escolhas: o capitalismo é totalitário. No final, em vez de oferecer opções, acaba por minar qualquer seleção: nem emprego, nem desenvolvimento, nem vontade e, para a classe trabalhadora espanhola, nem direitos ou justiça.
Como não vivemos num mundo possível, temos a obrigação de sonhar alternativas. “O sonho (como poesia encantada) é um espaço de criatividade sem censuras: gestos, imagens, desejos sem vigias nem tiranias. É um modo de expressão vacinada contra o poder e os poderosos, contra a teia de aranha que forma, em um vendaval de imposições, medos e dependências, o homem resignado.” (Luis Alberto Warat, Manifesto do Surrealismo Jurídico)
O sonho traz consigo seu elemento essencial: o desejo. O sonho sem o desejo se aproxima dos produtos oferecidos pelo mercado como o café sem cafeína, a cerveja sem álcool, o refrigerante sem calorias. Esses produtos estimulam os sentidos com o plus de não oferecerem riscos ao consumidor e sua saúde. Ao mesmo tempo que proporcionam uma satisfação sensorial, esses produtos des-substanciados eximem o consumidor da responsabilidade e do ônus pelo seu uso. É uma ingestão sem efeitos. Um sonho sem desejo é a mesma coisa: ele é inconsequente.
        Nesse sentido, o sonho desejante vem para re-signar a juventude resignada. Vem injetar uma semântica na juventude, que desde seu início se faz ruínas, pois seu material é o efêmero, o fugidio, o transitório. O caráter arruinado da juventude é a prova de que um dia ela foi animada por uma estranha instabilidade, um desejo contra-hegemônico que nunca morre por completo, que retira de algum lugar estranho a força de resistir ora mais, ora menos.