domingo, 8 de maio de 2011

Primeiras impressões: Materialismo Mágico


Em 19 de abril estreiou a exposição do pintor Maurits Cornelis ESCHER no Centro Cultural Banco do Brasil, que fica no centro da cidade de São Paulo. Faz anos que conheço suas obras e observo, atenciosamente, a mágica de Escher com seu surrealismo matemático que explora o impossível e o infinito em formas geométricas quase tateáveis.

Ao conhecer a obra intitulada "Materialismo Mágico" de Warat, a relação com o pintor Escher foi quase automática. A obra "Cascata" de Escher, mostrada acima, foi a imagem perfeita para ilustrar o título de Warat em minha apostila encadernada. Ora, bastava observar atentamente o quadro que se vê a água subindo e caindo em cascata, de forma natural. E mágica. Escher consegue materializar o mágico, o impossível, o irreal.

Porém, ao ver a exposição de Escher, tive a oportunidade de perceber também grandes diferenças entre os autores. Um diálogo continuava se travando em minha cabeça, cada vez mais dialético.

Escher queria explorar o mundo de forma equilibrada e simétrica. Ao ver o caos instalado na realidade do dia-a-dia, focava-se nas formas geométricas perfeitas, acabadas, para assim retratar um surrealismo perfeito, que consegue trazer a equação da geometria para o mundo real, assimétrico, desconcertado. O autor explica que não há nada mais bonito numa forma geométrica e tentava se focar em gravuras geométricas para assim organizar, ao menos, o seu mundo. Em uma de suas obras, intitulada "Ordem e Caos" (Order and Chaos, ao lado), fica claro tal contraste.

Apesar de Warat falar da mágica do surrealismo, tal surrealismo seria de um delírio real. Busca na expressão "materialismo mágico", uma sensibilização concreta. Em suas palavras: Para o movimento surrealista de arte e direito, o importante é tratar de unir ou articular os dois movimentos, unificá-los dialogicamente e pensar que a transformação das condições materiais de existência dependem de uma transformação simultânea das condições de produção da subjetividade; que por sua vez, não poderá se concretizar plenamente se não se modificar, conjunta e de modo uníssono, as condições materiais de existência. Com fome e miséria é difícil modificar a subjetividade, levá-la rumo à autonomia. E se não nos dirigimos e lutarmos para alterar nossas condições de produção da subjetividade, não poderemos superar a fome, a exclusão e a existência de gente tratada como inexistente, gente que inclusive não tem ela mesma consciência de sua existência.


Warat produz, portanto, seu materialismo mágico partindo do mundo desconcertado que grita por sensibilização. Tal pedido pode ser concretizar pela Arte. E com a materialização da sensibilidade, conseguiríamos alterar o caos cotidiano.

Minha comparação com Escher soou equivocada a partir de tais conclusões. Ora, Escher e Warat eram opostos em suas obras! Porém, conversando com a Jaqueline (CWSP), fui lembrada de um conceito que Warat gostava muito, de Bakhtin, que falava que a obra, depois de pronta, não é mais do seu autor... ela é do mundo, e por isso, pode assumir os mais variados sentidos. A intertextualidade de Bakhtin, inspirou os modernistas com a antropofagia, e o conceito da carnavalização, foi pegado emprestado por Warat e inserido em seu pensamento jurídico.

Mantive, assim, minha capa do Materialismo Mágico e os autores apertaram as mãos em minha cabeça, numa complementaridade necessária e carnavalizada e, independentemente dos motivos, na eterna busca pela Arte.


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