sábado, 14 de maio de 2011
Manifestação que "carnavalizou" São Paulo no dia de hoje!
domingo, 8 de maio de 2011
Primeiras impressões: Materialismo Mágico
Ao conhecer a obra intitulada "Materialismo Mágico" de Warat, a relação com o pintor Escher foi quase automática. A obra "Cascata" de Escher, mostrada acima, foi a imagem perfeita para ilustrar o título de Warat em minha apostila encadernada. Ora, bastava observar atentamente o quadro que se vê a água subindo e caindo em cascata, de forma natural. E mágica. Escher consegue materializar o mágico, o impossível, o irreal.
Porém, ao ver a exposição de Escher, tive a oportunidade de perceber também grandes diferenças entre os autores. Um diálogo continuava se travando em minha cabeça, cada vez mais dialético.

Warat produz, portanto, seu materialismo mágico partindo do mundo desconcertado que grita por sensibilização. Tal pedido pode ser concretizar pela Arte. E com a materialização da sensibilidade, conseguiríamos alterar o caos cotidiano.
Minha comparação com Escher soou equivocada a partir de tais conclusões. Ora, Escher e Warat eram opostos em suas obras! Porém, conversando com a Jaqueline (CWSP), fui lembrada de um conceito que Warat gostava muito, de Bakhtin, que falava que a obra, depois de pronta, não é mais do seu autor... ela é do mundo, e por isso, pode assumir os mais variados sentidos. A intertextualidade de Bakhtin, inspirou os modernistas com a antropofagia, e o conceito da carnavalização, foi pegado emprestado por Warat e inserido em seu pensamento jurídico.
Mantive, assim, minha capa do Materialismo Mágico e os autores apertaram as mãos em minha cabeça, numa complementaridade necessária e carnavalizada e, independentemente dos motivos, na eterna busca pela Arte.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Nosso apoio: Casa Warat Goiás no evento da ABEDi - Sudeste
domingo, 1 de maio de 2011
Do manifesto do surrealismo... ao manifesto do surrealismo jurídico!
A poesia possibilita-lhe isso. Traz em si a visceral compreensão das limitações que padecemos, colocando em evidência a ordem artificiale mortífera de uma cultura impregnada de legalidades presunçosas. Ela pode servir para despertar os sentidos e os desejos soterrados e desencantados por séculos de saberes, preocupados, estes, em garantir todo e qualquer tipo de imobilismo. Praticando a poesia, teremos a possibilidade de fazer triunfar o desejo sobre o bom senso e os bons sentimentos, deixando-nos, assim, sem ouvidos para os chamados valores nobres e verdadeiros, aqueles que sacralizam, com civismo, o amor ao poder. É o desejo destruindo de um só golpe os Deuses e os Patrões. É a semente da subversão onde menos se espera encontrá-la: a lanterna mágica do desejo.
(...)
Para o surrealista, o absurdo não tem uma conotação pejorativa: é a forma de protesto que se opõe ao jogo do coerente, do lógico e do demonstrado, categorias empregadas como critérios incontrovertíveis de verdade nos grandes relatos que a ciência produz para imaginar o mundo.
No surrealismo, o absurdo reitera a necessidade de múltiplas compreensões do mundo. O absurdo surrealista é uma saída espontânea para procurar a voz humana no meio dos poetas, no meio dos desejos.
Declarar, afirma Breton, que a razão é a essência do homem, já é dividi-lo em dois, coisa que a tradição clássica nunca deixou de fazer. Esta, acrescenta, distinguiu no homem o que é razão, e que, por isso mesmo, é verdadeiramente humano, e o que não é razão, e que, por esse fato, parece indigno do homem: instintos, sentimentos e desejo. Um corte mortalmente perigoso e onipotente que o surrealismo pretende surpreender em suas faltas, chamando a poesia.
Valendo-se da poesia, o surrealismo mostra sua firme intenção de derrubar as margens estreitas do racionalismo, sacudindo-nos, ao mesmo tempo, para que despertemos de nossas ilusões e dependências em relação a todas as convenções vigentes." (LAW)
(continua...)
domingo, 17 de abril de 2011
A Rua Grita Dionísio!
WARAT, Luis Alberto. A Rua Grita Dionísio! Direitos Humanos da Alteridade, Surrealismo e Cartografia. Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2010, p. 53.
domingo, 3 de abril de 2011
"NÃO É O MEDO DA LOUCURA QUE VAI NOS OBRIGAR A HASTEAR A MEIO-PAU A BANDEIRA DA IMAGINAÇÃO"

Apollinaire afirmava que os primeiros quadros de Chirico haviam sido pintados sob a influência de distúrbios cenestésicos (enxaquecas, cólicas).
Tão ocupado estava eu com Freud nessa época, e familiarizado com os seus métodos de exame que eu tivera alguma ocasião de praticar em doentes durante a guerra, que decidi obter de mim o que se procura obter deles, a saber, um monólogo de fluência tão rápida quanto possível sobre o qual o espírito crítico do sujeito não emita nenhum julgamento, que não seja, portanto, embaraçado com nenhuma reticência, e que seja tão exatamente quanto possível o pensamento falado. Parecia-me, ainda me parece – a maneira como me chegara a frase do homem seccionado o comprovava – que a velocidade do pensamento não é superior à da palavra e que ele não desafia forçadamente a língua, nem mesmo a caneta que corre. Foi com estas disposições que Philippe Soupault, a quem eu comunicara estas primeiras conclusões, e eu começamos a escrevinhar, pouco nos importando com o que pudesse suceder literariamente. A facilidade de realização fez o resto.
Uma risada
de safira na ilha de Ceilão
As mais belas palhas
Têm a cor esmaecida
Na prisão
Numa fazenda isolada
NO DIA-A-DIA
agrava-se
O agradável
Um caminho carroçável
vos conduz ao desconhecido
O Café
roga por si mesmo
O ARTESÃO QUOTIDIANO DE VOSSA BELEZA
Senhora,
um par
de meias de seda
Um salto no vazio
UM CERVO
Antes de tudo o amor
Tudo poderia acabar tão bem
Paris é uma grande aldeia
Vigial
o fogo incubado
a oração
Sabei que
os raios ultravioleta
terminaram seu trabalho
bom e rápido
O PRIMEIRO JORNAL BRANCO
DO ACASO
Vermelho será
O cantor errante
ONDE ESTARÁ?
na memória
em sua casa
NO BAILE DOS ARDENTES
Faço
dançando
domingo, 20 de março de 2011
Ata literária da fundação CWSP

ATA LITERÁRIA (OU PEQUENO-GRANDE MANIFESTO) DE FUNDAÇÃO DA CASA WARAT SP
São Paulo, 12 de fevereiro de 2011.
Numa ilha verde em meio à visão de uma metrópole opressora, Leopoldo, o irmão argentino mais brasileiro e, quem sabe, baiano, Jaque e Levy, duas individualidades que se somam nas diferenças, Mariana e André, duas diferenças que se multiplicam em infinitas possibilidades de cores, amores e ideias, reuniram-se com uma única certeza: de que uma avenida não é feita apenas de concreto, mas também de amor, loucura e poesia.
Cansados de se sentirem sozinhos em meio à multidão indiferente, do esquecimento dos outros, das reificações e imediatismos, das artificialidades e automatismos, da renúncia de si, que contamina as relações entre as pessoas com um imperativo de pressa.
Cansados das passividades, de um desespero intoxicante, da falta de ar, de um cotidiano cinza, e dos conselhos que apontam que a saída está na aceitação das avenidas anestesiadas de normas e regras, que conduzem a um agir no qual se esquece da vida que se sente.
Cansados da papelização das pessoas, da processualização das dores, da protocolização da vida, pensaram na utopia de uma ilha flutuante que pode chegar a muitos portos, por muitos caminhos. Uma ilha que pode deixar de ser ilha e plasmar territórios de música, arte, intervenções urbanas, para produzir lugares livres que se fundam na liberdade criativa dos outros.
Aquele lugar onde esse pequeno grupo se reuniu era também um oásis. Um oásis iluminado a velas que desapareciam no ar. Um oásis mágico, em que a selva de concreto, de repente, tornara-se verde. Lá, incrivelmente, fazia frio em pleno verão. E lá dançaram até catala e trégua, e brindaram com um drink de fernet portenho.
E foi lá, num rizoma tão fecundo, que essa Casa, mais uma Casa nômade, começou a brotar.
Lembraram daquela cidade cinza recortada, daquele lugar que pedia socorro ao mesmo tempo que mostrava que todos estavam SÓS.
E nele colaram flores coloridas, muitas flores. E viram cronópios, aqueles bichinhos verdes e úmidos, parecidos com micróbios, que se empolgam ao cantar e são atropelados, perdem o que levam nos bolsos e deixam as lembranças soltas pela casa... E quando chegam numa cidade desconhecida, os trens já partiram, os táxis não querem levá-los, chove a cântaros, e mesmo assim eles sonham que na cidade há grandes festas e que eles foram convidados, e acordam felizes.
Viram que a cidade gris poderia ter muitas cores, poderia ter novamente realçadas as suas sutilezas.
Viram que nela poderia haver abraços. Repararam que há beijos bem em frente às Arcadas e se lembraram que é sim possível inscrever o amor no poder.
Viram que a luta continua.
Perguntaram-se, então, do porquê do oásis. Não seria fechado demais? Exclusividade demais? Não seria um encastelamento, um ressoar contido? Não estaria, assim, comprometido o poder emancipatório das idéias nele (trans)formadas?
Foi assim porque a Casa Warat é um espaço mágico. Não foram até o oásis, ele simplesmente formou-se diante dos olhos esperançosos, sem que se dessem conta. Foi assim, mágico, porque é assim que é. E foi assim ao longo de quatro dias em que estiveram juntos.
Porque foram dias em que viveram aquela mesma cidade cinzenta de sempre, de uma forma tão intensa, que aqueles quatro paulistanos sentiram-se noutra cidade. E, ao final, todos tinham incrivelmente a mesma sensação: eram eles que viajavam, e não o seu querido irmão argentino, que revia São Paulo depois de tantos anos e a redescobria.
E naquela cidade cosmopolita viveram o Brasil e nela deram a volta ao mundo em 04 dias.
Sim, foi mágico, porque assim que é. Mas disso não se fala, sente-se. Vive-se e ponto. E é isso que eles querem mostrar.
Foi mágico, porque na cidade do caos, os caminhos subitamente apareciam, as vagas para estacionar brotavam logo à frente. Os semáforos estavam sempre amarelos. O material de trabalho simplesmente aparecia, assim como as idéias e os sentimentos em comum. Tudo fluía. Até a esperança aparecia - não aquela de que falava Cortázar, mas sim a do insetinho verde que costumam dizer que traz sorte.
Foi num oásis, porque na cidade do caos é necessário buscar um lugar em que se possa, simplesmente, parar.
Parar para respirar e lembrar que se têm pulmões que se podem encher profundamente de ar. Para sentir-se a si mesmo. Para ter paciência e viver um outro tempo, um outro ritmo. Parar e lembrar de sentir o corpo que se tem. E que ele pode se relacionar com os outros num sorriso, num abraço, em palavras de cuidado, num beijo, num olhar fraterno. E até mesmo num silêncio. Parar porque todos estão aqui e são indiferentes uns aos outros. E entre eles é como se houvesse barreiras, degraus invisíveis, que se proliferam, que contaminam, que afastam e anestesiam.
Somente num oásis, vivendo um outro tempo dentro do tempo, é que se torna possível olhar para dentro de si e dos outros.
Mas que fique claro que esse oásis, ou ilha flutuante, está aberto a quem quiser. A quem puder se deixar levar pelos sentimentos verdadeiros da essência humana. A quem conseguir deixar de lado toda essa prisão metódica que nos prende feito escravos... Entubando toda a cor descoberta e existente em potes hermeticamente fechados.
Queremos, então, o estardalhar dos vidros. Que respinguem as cores mil em cima dos mapas rasgados da cidade que não pára. Que nos faça sangrar o sentimento verdadeiro, inundando o calar silente pelo grito d’alma. Queremos expandir o espaço, ampliando as dimensões daquilo que se sente, daquilo que se vê. Do abraço.
Esse oásis, ou ilha flutuante, não se encerra em si mesmo. Deve expandir-se para além dos limites que o tornam oásis. Deve ampliar-se para além-mar de nosso mundo, de nossas barreiras. Deve inundar de um verde vivo, pulsante. Expandir-se para além dos limites desse delírio, utopia, sonho.
Mas com o que sonhamos?
Sonhamos com um cotidiano em que podemos deixar de ser famas para nos assumirmos como cronópios, seres desorganizadores, que vivem não de lembranças e regras rígidas que, cartesianamente, ordenam uma vida de mesmices seguras, mas de impulsos verdadeiros, do sentimento bruto e vivo.
Sonhamos em medir o tempo com o cuidado que merece o tempo – não o cuidado de dar corda em um relógio, mas com o cuidado de quem aprecia uma alcachofra folha por folha e, ao final, não vê encerrado um ciclo, terminado um caminho ou morta a esperança, mas sim um delicioso coração, que se pode comer com azeite, vinagre e, por que não, com chimichurri!
Sonhamos com uma pedagogia que rechace toda forma de reprodução de poder. Uma pedagogia do novo que não discrimina a diferença e que não faz do ensinamento egoísta uma finalidade no interior de relações de adulação fingida, de criatividades mortas, de discursos fundados no morrer cotidiano da esperança.
Desejamos o retorno ao desejo como fundamento para uma educação que não ordene verdades enclausuradas, mas que sussurre a libertação das verdades instituídas. Uma permanente tensão das fronteiras do saber rumo não a uma vulgarização do conhecimento, mas a descobertas de novas potencialidades, que podem estar silentes dentro de cada um de nós, ou, quem sabe, no sonho de um irmão ou na afetação estética provocada por uma irresignação de um fato da vida.
Desejamos conhe-ser diferente.
Na abertura ao diferente, que supera a previsibilidade pré-estabelecida e a segurança enjaulada. A possibilidade de surpreender-se no outro e nele se diluir. Permitir o seu devir em nós mesmos, de modo a garantir não uma experiência segura ou assegurada, mas correr o risco da suspensão de si mesmo.
Na abertura das cascas sedimentadas na desolação. No cair dos muros construídos, na redescoberta da essência humana. E que tal espírito vivo nos oriente frente às tragédias de um mundo doente de coração. Que nos permita enxergar, pois, o sentido para o prolongar da vida, de forma autêntica, sem a diluição ilusória do cotidiano.
E, finalizando (ou começando?), vamos “todos juntos!”... seguindo... fluindo... amando... buscando... tentando... Venham todos! Vamos juntos no bloco do “Custa, mas vai!”, que de forma carnavalizada e paulistana, parece sintetizar o nosso desafio e aquilo que nos une:
sábado, 12 de março de 2011
Manifesto Antropófago
O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.
Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar.